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Blogues dos alunos do Curso Técnico de Fotografia iniciado no ano letivo 2014/2015 com a disciplina de Projeto e Produção de Fotografias:
- Ana Rita
Documentário de fotografia de Joe L. Set realizado por Cale Glendening, em Varanasi, Índia,
no link https://vimeo.com/55246312
Miguel Godinho, antigo aluno desta escola e dos nossos cursos C.E.F. venceu o prémio Novos Talentos FNAC Fotografia 2009, com o seu trabalho Mimesis. Este seu conjunto de trabalhos encontra-se exposto na FNAC Colombo.
A atribuição do prémio a Miguel Godinho foi defendida pelo júri da seguinte forma:
”O projecto Mimesis de Miguel Godinho percorre um destes caminhos de metodologia rigorosa por onde a fotografia se reencontra com a natureza para aí ser protagonista e alvo de reflexão visual. É um trabalho que problematiza o relacionamento com os símbolos, as formas, os espaços e a vida que o ambiente natural nos oferece. Fundado numa aproximação que renuncia aos efeitos (mas que procura os artifícios), Mimesis (imitação, representação) encontra familiaridade nesse ideário estético dos anos 70 que originou múltiplas abordagens documentais topográficas e marcou o regresso à natureza como tema e problema (ecológico, social…) do discurso fotográfico.
A necessidade humana de estar ao lado da natureza, de se enquadrar nela e de a tomar como modelo é-nos dada ora por representações contemplativas e melancólicas, ora por paisagens íntimas, cruas e de pendor vernacular. As imagens de Mimesis não fogem à fealdade. Aceitam-na, incorporam-na como discurso. Porque o quotidiano que partilhamos com a Natureza nem sempre é deslumbrante e belo. A representação de cenas banais e objectos ordinários elevada por Stephen Shore (Nova Iorque, EUA, 1947), ainda num tempo de pioneirismo na utilização da cor, é uma referência assumida.
De maneira despretensiosa (mas eficaz), as fotografias de Miguel Godinho lembram, e de certa forma desmascaram, uma necessidade visual absoluta de assimilar e reproduzir os modelos da natureza, seja nas mais ínfimas manifestações do quotidiano, seja nas mais anacrónicas (ou esplendorosas) intervenções na paisagem. Os vazios urbanos (os baldios, os lugares sem qualidades) e a relação entre arquitectura e poder problematizados por John R. Gossage (Staten Island, EUA, 1946), bem como as periferias documentadas por Paulo Catrica (Lisboa, 1965) constituem referenciais importantes no trabalho de Miguel Godinho.
O campo da natureza como programa criativo tem sido muito explorado nas últimas décadas. A paisagem, por exemplo, deixou de ser há muito um tema antiquado para se tornar numa das mais férteis matérias de reflexão, uma corrente de trabalho impulsionada por novos problemas colocados por disciplinas como a arquitectura, a economia, o urbanismo ou a ecologia. Apesar da multiplicidade de propostas (e da sensação de que tudo já foi visualmente explorado), permanecerão vias alternativas de questionamento, como esta que Miguel Godinho encontrou. A presença da natureza no Homem, quase um enamoramento, e a interacção atabalhoada com o espaço vivo que dão forma a Mimesis enquadram-se nos mais pertinentes projectos criativos da actualidade e constituem terrenos não muito experimentados no contemporâneo panorama fotográfico português.”
Milénio:
O leão não será mais rápido que o boi
em busca de pastagens
o cordeiro e o pássaro
nascerão de uma fórmula poética
e o lobo
o beijo terá na sua boca
Os jogos dos meninos
serão com as aves
uma pomba e uma águia
navegarão
em águas de branco lôdo
Desta vez um anjo passará
o seu lirismo
no mundo.
(c)J.T.Parreira
A Desconhecida do Sena
"At the turn of the 19th century, the body of a drowned girl was pulled from the river Seine. The body was that of a girl around twenty years of age."
Ninguém te quis
sereia seduzida pelas águas
Uma vida que termina com a maré
numa margem de tela
no óleo do rio Sena
Nenhum impressionismo
na beleza pálida do rosto
um sorriso beijado
pelos lábios frios
da morte
de todas as jovens afogadas
é a mais bela a quem o rio
tomou a vida.
19/12/2009
J.T.Parreira
REDES
Chamaram dos ramos do mar
os pássaros marítimos
chamaram do fundo
do volumoso silêncio
os peixes, como se fossem
os olhos da noite
Chamou uma sereia de vento e sal
E dos dedos dos pescadores
as redes tristes
saltaram com setas.
J.T.Parreira
No espaço de uma vida
há memórias
às quais permanecemos
mais fiéis.
Vejamos: este garfo
apenas pousado na borda de
um prato vazio lembra
o gesto reparador da mãe
quando chegavas a casa.
Lembra o repouso do guerreiro
a palavra do filósofo
o silêncio do pastor.
in, O Caçador de Tempestades, Jorge Gomes Miranda, &etc, 2004
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